23.11.11

Brasil: primeiro ou terceiro mundo?

Há tempos que reflito sobre a questão acima, e consolidei uma resposta que penso ser a mais adequada: o Brasil de hoje não é nem primeiro nem terceiro mundo, mas sim ambos, ao mesmo tempo.
Quando eu cursei o meu ensino fundamental e médio, estávamos na década de 1990. Muitos dos meu professores haviam sido educados num período em que a União Soviética ainda existia e, consequentemente, fui ensinado a enxegar os antigos países socialistas como segundo mundo, e o Brasil como parte do terceiro.

Já ao longo da década dos anos 2000, quando fui para a universidade e me graduei, após a estabilização monetária promovida por FHC, e quando o governo Lula investiu pesadamente em promoção social, o Brasil passou a ser visto como emergente. E foi assim que eu também passei a pensar a minha pátria.

Contudo, há dois anos sai do interior de São Paulo para ir morar na cidade do Rio de Janeiro, que, para mim, é a grande síntese do Brasil, mais do que qualquer outra cidade brasileira. No Rio, o sul e o norte do país se encontram, o nível de industrialização não é tão alto e a participação do Estado na vida social é considerável – o que ocorre em maior proporção quando se vai para o norte e em menor quando se vai para o sul.

Além de vivenciar o dia-a-dia da cidade maravilhosa (também grande símbolo do país para os que o vêem de fora), eu fui trabalhar em um centro de pesquisa e desenvolvimento de uma empresa multinacional do setor de óleo e gás.

Foi então que passei a refletir mais sobre como estava organizada a minha vida: eu podia morar relativamente bem, em um apartamento da Zona Sul carioca, mas ao mesmo tempo não era possível ignorar as favelas ao meu entorno – primeiro e terceiro mundo, lado a lado.

Eu podia fazer compras em um Pão de Açúcar, organizado, limpo, com bastante variedade de produtos, ou podia ir ao Mundial de Copacabana, bagunçado, muitas vezes sujo, embora com preços abaixo da média (cheguei a comprar produto vencido lá, o que só descobri quando já estava em casa) – primeiro e terceiro mundo, há poucas quadras de distância.

Eu podia ir de casa ao trabalho em um corolla quase zero (bancado pela empresa), com motorista de terno e gravata, ar-condicionado e banco de couro, ou então pegar um táxi com um motorista que corria sempre acima do limite do velocidade, recortando todos na pista, e quase batendo a cada esquina (de fato, por uma ocasião o táxi em que eu estava colidiu com outro automóvel, na famosa Linha Vermelha) – primeiro e terceiro mundo.

Teria vários outros exemplos para ilustrar isso que quero dizer, caro leitor, mas acho que já entende o meu ponto, não é mesmo?

Mas, acima de todos esses exemplos, havia o trabalho. No meu local de trabalho, em um prédio recém-construído, com arquitetura diferenciada e o “estado da arte” ao alcance dos olhos, eu falava inglês e tratava de igual para igual com outros centros similares em Houston ou na Noruega. Certamente, primeiro mundo. Quando a jornada se concluia, contudo, sempre às 4h da tarde por questões de segurança, eu voltava para casa passando em frente aos Complexos da Maré e do Alemão, vendo por quilômetros a fio cenas dignas da Áfria sub-saariana. Por certa ocasião presenciei bandidos trocando tiros de armamento pesado, um deles no meio da pista, ao passar próximo da comunidade do Cajú.

Foi então que se consolidou a minha explicação para o que vivemos no Brasil de hoje. Moderno em muitos sentidos. Desigual, atrasado e indiferente em muitos outros. Primeiro e terceiro mundo, lado a lado, ao mesmo tempo.

1.11.11

Férias na Europa! - Paris

A chegada em Paris, pelo aeroporto Charles de Gaulle, já é bastante promissora. O aeroporto é enorme, e conta com duas estações de trens. Pelo preço aproximado de 10 euros é possível pegar um desses trens e ir direto para o centro da cidade. No nosso caso, fomos à estação Gare du Nord, situada próxima do hotel em que ficaríamos hospedados.


Multiculturalismo
Ao desembarcar na Gare du Nord, uma das mais tradicionais estações de trem de Paris, notamos que, de cada 10 pessoas, no máximo 2 tinham aparência do tradicional francês. Os outros 8 quase com certeza eram estrangeiros. Em sua maioria, cidadãos de origem africana ou árabe.
Sou muitíssimo favorável ao pluralismo cultural, e sempre penso que nós brasileiros somos um caso de sucesso dessa mistura de nacionalidades. Só não sabia que essa era a realidade da França. E de forma tão intensa!

Sujeira
Ainda na Gare du Nord, e depois ao sair dela caminhando, percebecemos que, ao menos naquela região, não se podia dizer que as ruas estavam limpas.
E isso de certa forma foi chocante. Mais por ver algo contrário à nossa expectativa.
Pensando bem, não é uma tarefa fácil manter sempre limpas as ruas de uma cidade tão populosa. Mas, no nosso imaginário, as ruas européias são sempre limpas e belas...

Beleza
De fato, as ruas eram belas. E não só as ruas. Os palácios, os monumentos, os canais, e mais um bocado de coisas. A estética da cidade-luz não é famosa à toa. São muitos os atrativos visuais, especialmente na região mais central.
E Paris de fato condiz com o que já me haviam dito sobre a cidade: há muito para se ver! São muitas atrações diferentes e interessantes.


Passeios
Com tanta coisa para se ver e fazer, claro que tivemos que eleger prioridades. Então, nossos passeios principais, na primeira passagem pela cidade, foram:

  • Champs-Elysée: vazia na parte da manhã e simplesmente lotada depois do almoço. Fomos a um dos seus cinemas, e percorremos a rua algumas vezes.

  • Torre Eiffel: vale a pena ir com calma. São 3 níveis. Fomos de escada até o segundo, algo que faria de novo e recomendo, pois permite apreciar muito bem a vista, com diferentes perspectivas. O último andar requer a compra de um segundo ticket, e só pode ser alcançado de elevador. Deve ser a melhor vista da cidade.

  • Arco do Triunfo: muito bonito. Nos demos por satisfeitos de vê-lo por baixo, mas é possível subi-lo também.

  • Louvre: fantástico! Mas haja perna! É um dos passeios mais desgastantes, embora muito recompensador.

  • Panthéon: local de culto às grandes personalidades francesas. Interessante e bonito, mas não indispensável.

  • Sacré Coeur: linda igreja, em local alto, com ótima vista. Assistimos uma bela missa nela. Infelizmente, há muitos ambulantes por perto e até pessoal fazendo o velho truque das tampinhas com bolinha embaixo, ou versões variadas do mesmo (e, claro, trata-se de um golpe, no qual nunca se pode ganhar). Ou seja, o contorno do local traz uma sensação de insegurança.

  • Jardin du Luxembourg: belíssimo! Fizemos um piquenique nele. Merece uma visita.

  • Notre-Dame de Paris: fantástica também! Assistimos uma missa de domingo nela. Vale muito a pena visitá-la. É possível subir nas torres, mas só se chegar cedo ou tiver muita paciência para esperar uma longa fila. Não subimos.

  • Bateau-mouche: um dos melhores passeios! Um pouco caro, mas vale cada centavo, pois se tem uma excelente perspectiva da cidade a partir do rio Sena.



Gosto de quero mais!
Só de pensar em Paris, já dá vontade de voltar. Ficamos devendo alguns passeios (não visitamos o palácio de Versailles, por exemplo, que fica um pouco afastado do centro da cidade). Mas ainda que tivéssemos visto tudo, valeria a pena voltar, porque, mesmo não sendo perfeita, a cidade tem alguma coisa especial e um quê de não saciar nunca o visitante.

7.10.11

Férias na Europa!

Quem é que não gostaria de passar férias na Europa? Todo mundo, certo?

Pois era exatamente com umas férias assim que eu e minha esposa, Ana, sonhávamos.

Depois de um ano e meio de casados, de um bom tempo de planejamento, e de tomar coragem para colocar a mão no bolso, finalmente partimos para 20 dias memoráveis no Velho Continente.

As tão sonhadas férias aconteceram entre Julho e Agosto de 2011. Como roteiro, resolvemos fazer um tour por algumas das principais capitais, incluindo aí Paris e Londres.

Quando se planeja uma viagem como essa, sempre dá uma vontadezinha de visitar um monte de lugares de uma vez, afinal de contas temos de fazer valer o alto preço das passagens, não é mesmo? Mas quando pesquisei na internet sobre dicas de outros viajantes e especialistas em turismo na Europa, descobri que o melhor era escolher menos destinos e passar mais tempo em cada um deles. Assim se tem tempo de aproveitar melhor cidades com muitas opções, e se perde menos tempo de traslado indo de um lugar para o outro.

Sábio conselho. Aprovei e repasso a dica. Aliás, bom notar que organizamos nossa viagem inteiramente pela internet. Por meio dela não só decidimos o roteiro, mas também compramos as passagens de avião e de trem, reservamos hotéis e pesquisamos como, onde e quando passear em cada cidade.

Assim, o roteiro que seguimos foi Paris, Bruxelas, Amsterdam, Londres e Paris de volta. Entre uma capital e outra, fomos de trem, com exceção da perna Amsterdam-Londres, em que voamos de EasyJet, uma das companhias de voos “baratos” da Europa.



A última parada em Paris teve direito a um dia inteiro de EuroDisney, um dos pontos altos da viagem.

Bem, como já deve ter notado, tenho muito a dizer sobre essas férias. Fica para um próximo post, contudo, algumas das impressões deixadas por esses 20 dias inesquecíveis. Grande abraço e até breve!

23.7.11

O aeroporto de Frankfurt

A primeira surpresa ao chegar em Frankfurt se deu ainda no céu. A imagem que eu tinha da Alemanha, um país altamente moderno e industrializado, entrou em choque com o mar verde de florestas que precederam o pouso nessa importante cidade alemã.

Inocência minha, eu sei, mas não imaginava encontrar um tapete verde assim tão amplo e bem conservado como aquele que vi. Boa surpresa. É possível, sim, pensei, combinar alto grau de desenvolvimento com respeito à natureza.

O segundo ponto a destacar não foi exatamente uma novidade, mas sim uma confirmação: a pista de pouso possuia uma extensão tão grande, que tive a nítida sensação de continuar voando mesmo quando as rodas do Airbus já tinham tocado o solo. A consequência é que os pousos em Frankfurt, mesmo para aviões muito grandes, são provavelmente sempre suaves, dado o enorme espaço disponível para desaceleração.

Uma vez em terra, surpreendi-me novamente com o tamanho do aeroporto. É simplesmente gigantesco. Não foi pequeno o percurso até alcançarmos a área de desembarque.

Ao descer do avião, tive de deixar a área de embarque, pois minha conexão se daria em outro setor. Foi então que tive mais um choque, com a quantidade surpreendente de lojas. De todos os tipos. Para os mais diversos gostos. Inclusive supermercado, onde comprei alguns itens.

Depois de passear por diversas lojas, parecia que aviões eram artigos supérfluos para esse enorme shopping center.

Devo notar que abaixo do solo havia 3 níveis, incluíndo aí estações de trens e metrôs que ligam o aerporto ao centro de Frankfurt. Uma “baita” estrutura, de dar inveja a qualquer aeroporto do Brasil.

O ponto baixo, contudo, foi o acesso à internet. Apesar de enxergar uma rede ‘free public wi-fi’, não consegui acesso a ela. Mais tarde ouvi de um colega que bastaria pedir pelo acesso. De qualquer modo, não foi conforme minha expectativa, de que bastaria ligar o computador e pronto.

O balanço final é que, apesar de muito melhor em termos de infra-estrutura física, mesmo em Frankfurt não se tem acesso à internet de maneira fácil. Que tal se pudéssemos estar à frente dos alemães pelo menos nesse quesito, nos nossos aeroportos brasileiros? Sonhar não custa nada.

Obs: Galeão, principal aeroporto do destino turístico mais visitado do Hemisfério Sul, possui 1/3 da área do aeroporto de Frankfurt, que é o mais movimentado da Alemanha e o terceiro da Europa.

18.7.11

Galeão, sem internet grátis

O mês é Junho. O ano é 2011. O aeroporto é o Internacional Tom Jobim, ou simplesmente Galeão. A área de embarque é internacional.

E a internet wi-fi grátis é inexistente!

Não foi pequena a minha surpresa ao descobrir que não poderia ver meus emails, nem ler notícias, enquanto esperava para embarcar.

Ora, somando o atraso do voo, foram pelo menos 3 horas sem poder usar a internet. E olha que a taxa de embarque é de 67 reais!

Pela quantidade de passageiros circulando, em um dia e horário que certamente não é dos mais movimentados, pode-se supor que a renda gerada por tal taxa é consideravelmente alta.

Mas não parece retornar em benefício dos que a pagam.

E não só pela ausência da internet grátis. Visitei 3 banheiros durante a minha espera. Nenhum deles estava limpo. Nenhum era espaçoso. Nenhum tinha lugar adequado onde eu pudesse deixar minha mochila enquanto usava o toilet.

Agora, sigo para o aeroporto de Frankfurt. Boa ocasião para comparar.

Não sou dos que acham que tudo no exterior é melhor do que no Brasil. Pensar assim é pensar errado. Somos bons em muitas áreas. Nem vou dar exemplos para não desviar o foco.

Mas em termos de infra-estrutura, aeroportos, portos, metrôs, trens, tudo isso que é essencial para que circulem pessoas e bens, nisso estamos visivelmente aquém do necessário.

E aí cabe uma autocrítica não complacente, e uma grande humildade e disposição para aprender com aqueles que fazem isso melhor do que nós.

E, parafraseando um gerente numa citação feliz: "Quem acorda tarde tem que trotar o dia inteiro". Senão, fica para trás.

11.7.11

Empreendedorismo - parte 3

Sobre as mencionadas habilidades que um empreendedor deve possuir, não sei se poderia tratar de todas elas aqui. Há sempre o risco de se ignorar algum ponto importante, quer por esquecimento, quer por inexperiência.

De qualquer modo, nunca é fácil ser empreendedor. Como nunca é fácil aprender e dominar novos assuntos e novas práticas.

Em qualquer ramo de atividade humana, a capacidade de realizar depende de esforços por dominar assuntos e assumir comportamentos que não são naturais.

Quando penso no empreendedor, penso em alguém que conscientemente fez um esforço de superação no sentido de se tornar apto a realizar coisas. Note que não penso em um empreendedor picareta, penso em alguém que seja ou busque seriamente a excelência.

Para tanto, uma primeira característica é fundamental (e talvez a pedra de toque para diferenciar os sérios dos picaretas): um grande realismo.

Não é trivial encontrar pessoas que olham para o mundo para enxergá-lo como ele é, e não como gostariam que ele fosse. Esse comportamento, que é muito simples de ser dito, não é muito simples de ser encontrado. Mas é imprescindível para um empreendedor de excelência.

O mercado e o debate de idéias tendem a não tolerar os pouco realistas. Há exceções, mas lembre-se que estamos falando de excelência.

Se você conhecer (como eu conheço) empreendedores picaretas que tenham sucesso econômico, não se surpreenda, e nem refute o que afirmo acima. O sucesso financeiro pode muito bem alcançar um empreendedor pouco realista e pouco excelente, mas é um sucesso que, na minha opinião, não vale a pena. Não realiza nem o empreendedor, nem os que trabalham com ele.

Por isso menciono a palavra excelência e não a palavra sucesso para definir o tipo de empreendedor desejável. E, para relacionar com algo que discutimos anteriormente, quanto maior a excelência, maior o grau de ‘nobreza’ de um dado empreendedor.

10.5.11

História da Política Exterior do Brasil

Terminei de ler, há alguns dias, o livro “História da Política Exterior do Brasil” (Editora da UnB, 2a edição, 2002, 525 páginas). Foi a quarta vez que o li. Eu sei, deve parecer estranho ter lido o mesmo livro quatro vezes, mas tenho cá minhas razões.

No geral, aprecio o livro, assim como aprecio muitíssimo o tema tratado por ele. Aliás, é sempre louvável uma obra de fôlego como essa, por pretender tratar de um vasto período histórico, mantendo a coesão geral entre os muitos fatos narrados, sem se aprofundar nem muito nem pouco em cada assunto específico.

Até onde sei, esse livro é o único de sua espécie.

Mas o fato de ser único, raro, desprovido de concorrentes à altura, também é problemático: não há como escapar dele para se ter uma visão completa da política externa tupiniquim desde a Independência. E, pior, há que se conviver com seus “defeitos de fabricação”.

O principal desses defeitos se encontra nos trechos escritos pelo professor Amado Luiz Cervo, da Universidade de Brasília, co-autor do livro junto com o professor Clodoaldo Bueno, da Universidade Estadual Paulista.

Claro que se trata de um grande acadêmico, digno de todo respeito e admiração. O professor Amado, contudo, tem uma tendência à valoração excessiva dos acontecimentos históricos narrados, com algum fundo ideológico. Tal característica chega a ser uma vantagem em certos pontos, mas beira o anti-científico em outros, como na descrição de um suposto “Estado Normal”, teoria muito estranha defendida por ele para explicar, em parte, o período FHC. Tal teoria pode ser sintetizada pelo seguinte trecho:

“A experiência de uma década revela que esse paradigma [o do Estado normal] envolve três parâmetros de conduta: como Estado subserviente, submete-se às coerções do centro hegemônico do capitalismo; como Estado destrutivo, dissolve e aliena o núcleo central robusto da economia nacional e transfere renda ao exterior; como Estado regressivo, reserva para a nação as funções de infância social.” (pag. 457)

E o texto segue por páginas a fio com essa teoria recheda de visão anti-neoliberal. Não que eu seja contrário à crítica (até faço a ressalva de que tal crítica é senso comum já há tempos), mas simplesmente não desejaria ler uma visão ideológica tão explícita num livro de história.

Concluo repetindo que julgo o livro, como um todo, excelente. Deveríamos ter outros tantos mais desse quilate. Seria desejável, entretanto, que possuísse um caráter mais contido em alguns trechos, atendo-se mais aos fatos do que a uma visão pré-estabelecida sobre os mesmos.

5.4.11

Empreendedorismo - parte 2

Outro aspecto sobre empreendedorismo que vale discutir é o local de ação do empreendedor. Ele pode atuar numa companhia ou organização já existente, ou pode (mais desejável, acredito) criar uma “empresa” nova.

Há pelo menos duas diferenças marcantes de um caso para o outro: o nível de risco e grau de responsabilidade.

Nível de risco

Criar uma nova unidade de negócios dentro de uma empresa que já existe é um grande exemplo de empreendedorismo. Mas é certamente menos arriscado do que criar um negócio similar autônomo, independente.

E não podemos ignorar o mérito que há em correr riscos. São os que correm riscos os que, em último caso, aceitam a responsabilidade pelos empreendimentos que trazem renda aos demais, aos que não correm riscos.

De novo, ser empreendedor significa agir de maneira altamente nobre. Mas há caminhos mais fáceis e mais difíceis para se chegar lá: criar um novo negócio dentro de uma empresa que já existe é, invariavelmente, mais fácil do que seria criar o mesmo negócio “do zero” por conta própria.

Grau de responsabilidade

Por mais importância que uma determinada posição profissional dentro de uma companhia possa ter, um funcionário quase nunca tem relação direta com as consequências do sucesso ou fracasso da empresa em que atua.

Em outras palavras, se o negócio der muito certo, um funcionário, por mais importante que seja, nunca terá a maior parte dos ganhos. Se der errado, também não entrará em falência pessoal.

Daí outra separação importante entre o melhor dos empregados e o pior dos empreendedores: o nível de envolvimento, o grau de responsabilidade pelo sucesso ou fracasso.

Mas claro que, apesar da ‘nobreza’ inata da vocação empreendedorística, há os que possuem mais ou menos méritos em seus empreendimentos. Ou seja, há graus variados dessa mencionada nobreza. Mas isso já é assunto para um próximo post.

13.2.11

Filme: "Entre os Muros da Escola"

Há alguns dias assisti o filme “Entre os Muros da Escola” (“Entre les Murs”, França, 2007), e posso afirmar que não foi uma experiência tranquila, ainda que bastante positiva.

A estória do filme se desenrola dentro de uma escola francesa da periferia de Paris, onde alunos de vários países e culturas convivem de maneira quase caótica.

O problema inicial pode parecer um simples desinteresse pelos assuntos ensinados, que parecem desconexos da realidade dos jovens alunos. Mas a questão é muito mais séria e preocupante. Há uma nítida separação entre esses alunos e o cidadão francês típico tal qual eles o percebem. Ou seja, há uma França tradicional e muitas fragmentações de culturas não integradas, autônomas. Mais ainda, essas “Franças” dentro da França não se dialogam, estranham-se e chegam mesmo a se odiarem.

Os conflitos em sala de aula são, portanto, uma metáfora da situação social que, por exemplo, efervesceu em outubro de 2005, na série de carros queimados por jovens no subúrbio de Paris.

À parte o multiculturalismo mal resolvido um tanto particular do caso francês, muitos dos comportamentos dos alunos retratados no filme trazem um quê de universal. Pelo contato que tenho com professores brasileiros, posso afirmar que o desinteresse, a indiferença, uma postura desrespeitosamente desafiadora e até mesmo uma agressividade latente são também muito comuns em terras tupiniquins.

E foram justamente tais comportamentos que me deixaram irritado, ao longo do filme. O realismo das cenas não deixa de provocar um grau de revolta, ao se notar que um professor competente é injustiçado por alunos que muitas vezes se opõem violentamente a qualquer iniciativa de aprendizado e crescimento pessoal. E não há sanção alguma que os faça seguir pelo caminho que, ao fim, é de exclusivo interesse deles próprios.

Importante notar que o telespectador do filme é guiado pelo olhar do professor de língua francesa François Marin. Isso porque o ator que o interpreta, François Bégaudeau, foi de fato professor, viveu em sala de aula muitas das cenas representadas, e é o autor do livro que serviu de base para o filme.

Concluo lembrando que a película foi vencedora da Palma de Ouro de 2008 e indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano seguinte. O que só atesta a sua qualidade. Mas reserve uma dose de paciência, se você é dos que, como eu, aprecia uma educação formal mais disciplinada.

30.1.11

Empreendedorismo - parte 1

Há tempos que reflito sobre o valor do empreendedorismo. Não só reflito como tomo iniciativas pessoais e profissionais pautadas por vontade de empreender.

Com o duplo propósito de revisitar aquilo que penso sobre empreendedorismo e compartilhar essa mesma visão, decidi iniciar uma série de posts sobre o assunto.

Como dizia no início, há tempos reflito sobre empreendedorismo. E o resultado de tais reflexões é simples: considero a vocação do empreendedor como a mais nobre de uma sociedade.

Pode parecer exagero, dito assim tão secamente. Mas, explico-me.

A definição de “empreender” que tenho é mais ou menos essa: um conjunto de habilidades que é posto em prática para construir ou coordenar esforços individuais ou coletivos no sentido de concretizar uma ação de valor econômico ou social.

A primeira peça importante nessa definição é que um empreendedor, para mim, não é simplesmente alguém que consegue criar um negócio de sucesso, pequeno ou grande, que gere renda e empregos. Claro que esse é um tipo de empreendedor fundamental, do qual depende, em última análise (ou deveria depender), o PIB do nosso país e de todos os países do mundo.

Mas, além do empreendedor do mundo dos negócios, existe também o empreendedor social. Alguém que cria ou contribui para uma ONG, alguém que faz trabalho voluntário, regular ou em momentos de necessidade. Alguém, principalmente, que consiga, por meio de sua ação, fazer o bem em termos materiais ou em termos de idéias.

Tenho especial interesse por alguns tipos de organizações que não somente agem, mas oferecem idéias, influenciam o discurso quase sempre monotônico das mídias, chamando à atenção temas que são geralmente muito importantes mas pouco urgentes.

Enfim, o empreendedor que deslumbro e desejo para o nosso planeta pode ser tanto econômico quanto social. De um modo ou de outro, ele é o responsável por criar sinergias que desembocam em alguma ação de valor para a sociedade. Mais, os grandes empreendedores são decisivos para mudanças de paradigmas nos mais variados campos da atividade humana.

Bem, paro por aqui dessa vez, com expectativa de voltar a discutir outros aspectos sobre empreendedorismo num próximo post. Mas antes esclareço por que decidi ilustrar este texto com a imagem de um esquiador em voo livre. Apesar de o empreendedor possuir a vocação mais nobre de uma sociedade, como afirmo acima, creio que ele nunca estará livre do “frio na barriga” ou do temor do desconhecido, parte inerente da sua atividade. Um esquiador em voo livre parece-me uma ótima analogia para esse estado do empreendedor no ápice de seu ofício: a mistura de adrenalina e medo, que muitos dos mortais recusariam, mas que obviamente é altamente recompensadora em termos de aventura e emoção.


23.1.11

Teorias explicatórias e constitutivas

Leio, atualmente, o livro “The Globalization of World Politics” (Oxford, 4th edition, 2008, 622 páginas). São muitos e muito interessantes os conceitos tratados pelo livro.

Do que li até agora, há um compêndio sobre as características e interpretações dos eventos classificados sob o nome de Globalização. Há ainda um resumo de bastante qualidade, até onde sou apto a julgar, sobre as teorias que fundamentam a disciplina de Relações Internacionais. Os vários paradigmas de pensamento que explicam as relações entre os países e suas instituições são abordados de maneira ao mesmo tempo sucinta e completa.

Mas a razão pela qual escrevo é um trecho no início do capítulo 10, que trata sobre um tema que desconhecia: a diferença entre teorias explicatórias e teorias constitutivas.

Uma teoria explicatória enxerga o mundo (ou um tema qualquer) como sendo algo externo às teorias que se faça sobre ele. Já uma teoria constitutiva crê que nossas teorias na verdade ajudam a construir o mundo como ele é.

Ou seja, uma certa visão sobre o comportamento de pessoas ou instituições pode muito bem servir ao propósito levá-los a agir segundo esse comportamento, dada a previsibilidade e aceitação geral sobre o mesmo.

Talvez essa diferenciação faça mais sentido para a ciência das Relações Internacionais, mas penso que seria útil também para outras ciências em diferentes contextos. Ignorar tal diferenciação poderia ser causa de mal-entendidos ou até mesmo erros interpretativos. Tê-la incorporada ajudaria a compreender melhor certas diferenças entre teorias interpretativas, sobretudo no campo das ciências humanas.

Claro que isso tudo deve parecer muito simples para alguém com conhecimentos epistemológicos (a Epistemologia, grosso modo, é o estudo sobre as teorias do conhecimento). Mas ter o conceito diferenciador de teorias claramente definido foi algo novo para mim e que achei de muita valia.

9.1.11

Fragilidade

Pétalas de cristal fino,

Pequenos insetos de cores diversas,

Plaquetas aos milhões invisíveis,

Plácidos tecidos microscópicos,

Pontes sinápticas absurdas,

instante que não se repete igual.


Tudo que de mais melífluo apieda o homem,

Tudo que de mais instantâneo surge e logo se esvai,

Todos os sentimentos inconstantes que não alcançam a próxima manhã,

Toda a precariedade me tomou de súbido.


E eu, que não cesso de agarrar-me aos trapos

do que me resta de coerência,

vi-me à beira do abismo,

do caos.


Mas a escuridão, numa guinada surpreendente,

afastou-se bem mais depressa do que chegara.

E tudo voltou a ser como antes.

F.I.S.