13.2.11

Filme: "Entre os Muros da Escola"

Há alguns dias assisti o filme “Entre os Muros da Escola” (“Entre les Murs”, França, 2007), e posso afirmar que não foi uma experiência tranquila, ainda que bastante positiva.

A estória do filme se desenrola dentro de uma escola francesa da periferia de Paris, onde alunos de vários países e culturas convivem de maneira quase caótica.

O problema inicial pode parecer um simples desinteresse pelos assuntos ensinados, que parecem desconexos da realidade dos jovens alunos. Mas a questão é muito mais séria e preocupante. Há uma nítida separação entre esses alunos e o cidadão francês típico tal qual eles o percebem. Ou seja, há uma França tradicional e muitas fragmentações de culturas não integradas, autônomas. Mais ainda, essas “Franças” dentro da França não se dialogam, estranham-se e chegam mesmo a se odiarem.

Os conflitos em sala de aula são, portanto, uma metáfora da situação social que, por exemplo, efervesceu em outubro de 2005, na série de carros queimados por jovens no subúrbio de Paris.

À parte o multiculturalismo mal resolvido um tanto particular do caso francês, muitos dos comportamentos dos alunos retratados no filme trazem um quê de universal. Pelo contato que tenho com professores brasileiros, posso afirmar que o desinteresse, a indiferença, uma postura desrespeitosamente desafiadora e até mesmo uma agressividade latente são também muito comuns em terras tupiniquins.

E foram justamente tais comportamentos que me deixaram irritado, ao longo do filme. O realismo das cenas não deixa de provocar um grau de revolta, ao se notar que um professor competente é injustiçado por alunos que muitas vezes se opõem violentamente a qualquer iniciativa de aprendizado e crescimento pessoal. E não há sanção alguma que os faça seguir pelo caminho que, ao fim, é de exclusivo interesse deles próprios.

Importante notar que o telespectador do filme é guiado pelo olhar do professor de língua francesa François Marin. Isso porque o ator que o interpreta, François Bégaudeau, foi de fato professor, viveu em sala de aula muitas das cenas representadas, e é o autor do livro que serviu de base para o filme.

Concluo lembrando que a película foi vencedora da Palma de Ouro de 2008 e indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano seguinte. O que só atesta a sua qualidade. Mas reserve uma dose de paciência, se você é dos que, como eu, aprecia uma educação formal mais disciplinada.