19.11.10

Platão e as verdades universais


Tenho como princípio íntimo o valor de que existem verdades objetivas quando se trata de aspectos centrais da condição humana.

Ainda adolescente, quando forçava-me a pensar durante o tempo livre do ônibus de ida e volta à então escola do segundo grau, recordo-me nitidamente esse tema interno de que eu deveria compreender a “verdade” sobre as coisas todas desse curioso mundo em que vivia.

Esse tema da verdade, contudo, sempre me foi caro pelas topadas que desde então dou com pessoas que de alguma forma acreditam ou foram levadas a acreditar que nada de absoluto há no universo.

Hoje, depois de muito mais leituras e pensamentos, posso enxergar com um pouco mais de clareza o contexto histórico e filosófico envolvido nesse embate entre os que crêem e os que rejeitam a ideia de verdades objetivas universais.

Basicamente, estou do lado de Sócrates, Platão, dos racionalistas do século XVII, dos empiristas do século XVIII. Compartilhamos, grosso modo, os mesmos princípios platônicos:

  1. Todas as questões genuínas têm somente uma resposta verdadeira e todas as demais estão necessariamente erradas;
  2. Deve haver um caminho seguro para a descoberta dessa verdade;
  3. A resposta verdadeira, quando descoberta, deve necessariamente ser compatível com as outras verdades para formar um todo único, pois uma verdade não pode ser incompatível com outras.

Tais pontos, para mim, sintetizam não somente um guia prático e seguro para lidar com verdades filosóficas sobre o homem e sua natureza – o que já não é pouco por si só. Representam também uma síntese do método científico, no melhor dos seus moldes.

Porque não concebo esse modelo como necessariamente estático, mas dinâmico.

Posso, a título de exemplo, usar essa ferramenta para concluir que o fato de o ser humano não possuir asas, como as possuem diversos insetos e aves, o impede intrinsecamente de voar por conta própria. E aí está uma singela, porém segura, verdade universal. Irrefutável. A de que nós, humanos, não voamos por nós mesmos.

Inúmeros e lentos avanços científicos, contudo, levaram o gênio humano aos dias atuais, em que somos capazes de voar, sob certas condições. Aviões, helicópteros, asas deltas, paraquedas, balões, em um conjunto finito de dispositivos, constituem exceções, ou adendos, à verdade universal acima descrita, definindo condições especiais sob as quais, sim, o ser humano pode voar, mesmo sem uma capacidade intrínseca para isso.

Claro como um cristal. E coerente com o modelo platônico, que, por isso mesmo, na minha visão, possui um dinamismo que o liga diretamente à realidade do mundo em que vivemos.

***

Tudo isso, contudo, é contrário ao que pensavam muitos dos pensadores do século XIX, como Hegel e seu discípulo Marx, para quem não haveria verdades eternas, mas um desenvolvimento histórico, uma mudança contínua do panorama humano a cada escalada evolucionária.

Ainda que as previsões de Marx sobre o curso da história tenham se mostrado fatalmente equivocadas, tendo as experiências dos que o seguiram sucumbido às tragédias do totalitarismo, da opressão à liberdade humana e da arbitrariedade, suas concepções alcançaram, de modo surpreendente, o ideário comum e pouco refletido da contemporaneidade. Pelo menos no contexto brasileiro e da minha geração. Quantos de nós não tivemos professores embebidos por um marxismo na maior parte dos casos raso, romanticamente simplório e dogmático? Pelo que sei ler do meu mundo e dos que me cercam, responderia que muitos de nós – embora eu sempre reconheça que possa estar estatisticamente errado.

Não que tudo o que Marx tenha dito seja uma bobagem. Não concebo nossa visão de mundo atual sem a categoria “classe social”, por exemplo. Embora mesmo nesse quesito ele tenha sucumbido a erros, por considerá-las deterministas e por ignorar a grande permeabilidade entre classes que o seu contexto histórico e os posteriores mostraram, tanto nos países centrais como nos menos desenvolvidos.

***

Mas esse ataque às verdades universais, que resultou no relativismo exagerado que ainda hoje vivemos, representa um grande erro. Não só um erro, mas uma incoerência com a realidade do dia-a-dia tal qual a percebemos. Porque, embora haja muitas coisas entre as quais não há certo ou errado, há também aquelas em que o certo e o errado são evidentes. E ignorá-los só nos faz menos humanos e, por mais ingênuo que possa soar isso, menos felizes.

9.11.10

Dilma eleita mesmo sem apoio do Norte e Nordeste

Escrevo somente para confirmar o escrito no post anterior. Já no dia seguinte à votação, o G1 publicou uma reportagem confirmando que Dilma teria sido eleita mesmo se os votos do Norte e Nordeste não tivessem contato no segundo turno das eleições presidenciais de 2010.

Volto ao assunto porque, como se pode ver no artigo citado e também numa busca rápida pelo Google, a tese de que o Nordeste teria eleito a Dilma foi muito difundida. Exemplo clássico de senso comum sem fundamento na realidade, mas que se espalha como se fosse verdade.

Veja, de acordo com a figura abaixo, que os votos de Norte e Nordeste foram, sim, os que fizeram a diferença entre Dilma e Serra ser considerável. Mas não foram decisivos.


Vale notar que escrevi e escrevo sobre o assunto por puro zelo à verdade. Eu mesmo não votei na Dilma e, portanto, não estou raciocinando com base em preferências pessoais. O tema, contudo, que em diversas ocasiões esteve próximo de uma posição discriminatória contra os estados do Norte e Nordeste, despertou o interesse desse paulista orgulhoso de seu país.

17.10.10

O mito do Norte e Nordeste como definidores das eleições presidenciais no Brasil

Há poucos dias recebi um email, numa lista de emails da qual participo, contendo mais uma vez uma mensagem com a qual já havia colidido outras vezes durante essa campanha presidencial, assim como nas anteriores também. É a ideia de que os estados do Norte e, principalmente, Nordeste seriam decisivos na hora de eleger o presidente do Brasil.

O email ia mais longe, pois “informava” que tais estados são deficitários em relação ao governo federal (recebem mais verbas do que entregam sob a forma de impostos) e que, portanto, concluia, “A gente paga e eles elegem o Presidente...”. É claro que o autor de tais linhas enxerga o país a partir de um referencial “sulista”.

Dentre outros argumentos que se poderia lançar mão ao replicar esse autor, de cujos claros sentimentos separatistas afasto-me radicalmente, sinto-me tocado a combater essa ideia de que os estados nordestinos são os que “elegem” o presidente.

Curioso observar como tal ideia permeia o nosso coletivo (digo mais pelo contexto dos estados do sul do país, onde vivi até hoje). Em primeiro lugar, defende-se que os estados do Norte e Nordeste são decisivos nas eleições presidenciais. Em segundo, usa-se a ideia implícita ou explícita de que em tais estados haveria toda sorte de corrupção e compra descarada de votos. A conclusão lógica é que seríamos todos nós do “sul” do país reféns de pleitos injustos.

Para mim, isso não passa de um mito. E por que penso assim? Veja a tabela abaixo, que tirei do Wikipedia:




Se você, leitor, concordar comigo em dois pontos: (a) que há uma relação direta entre o tamanho da população e o número de eleitores; e, (b) que as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste podem ser consideradas as mais adiantadas em termos de desenvolvimento (se não concordar quanto ao caso do Centro-Oeste, posso argumentar melhor depois); então teremos que a parte mais "desenvolvida" do país continha, segundo o IBGE, em 2009, nada menos que 122.529.825 pessoas, ou 64% da população do país, ou, ainda, algo aproximado a 64% da quantidade total de eleitores.

Só isso já seria suficiente para desmitificar o fato de que Norte e Nordeste sejam decisivos numa eleição presidencial. Mas acrescente-se a isso duas coisas: (1) os estados do Norte e Nordeste não votam de forma homogênea (o Serra ganhou, agora no primeiro turno das eleições de 2010, nos estados de Roraima, Acre e Rondônia, apesar da suposta maioria petista generalizada, por conta dos programas sociais do governo, que são mais presentes no Norte/Nordeste); (2) os grandes centros urbanos do Norte e Nordeste não são menos dinâmicos e heterogêneos do que os grandes centros urbanos da região Sul/Sudeste/Centro-Oeste (por conta de suas classes médias e altas com virtualmente igual acesso a bens, serviços e informações), valendo notar que 15 das 35 regiões metropolitanas do Brasil localizam-se nas regiões Norte e Nordeste.

Ou seja, o resultado final que quero afirmar é que, ainda que haja compra descarada de votos em muitas regiões do interior do Norte e Nordeste, estatísticamente tais votos não poderiam ser decisivos numa eleição presidencial no Brasil (veja aqui e abaixo que a diferença entre o primeiro e segundo colocados nas últimas 3 eleições presidenciais foi de, pelo menos, 7% dos votos).








Talvez a própria imagem dos mapas com estados coloridos de azul e vermelho, como acima, sirvam de alimento para o mito dos estados do nordeste terem mais peso do que os das demais regiões, dada sua prevalência numérica. Mas o que esse tipo de mapa não mostra claramente é o tamanho da população que reside em cada um desses estados e, por conseguinte, o tamanho dos respectivos colégios eleitorais. E daí a confusão no imaginário popular de alguns "sulistas".

Portanto, em resumo, a ideia de que os estados do Norte e Nordeste são os que realmente decidem as eleições presidenciais no Brasil não passa de um mito.


14.10.10

1.9.10

Curiosidade

Qual o por quê dessa volúpia, dessa expansão calorosa da alma, desse muito empolgar-se?

A razão está nas idéias diferentes, incomuns, que me fazem enchente por dentro.
E não somente idéias, mas ideais. E também paisagens, texturas, cores, sabores, sons.
E ainda o poder das verdades científicas.
E a doçura de Deus e de Sua Mãe.

Mas a urgência do foco, as necessidades do hoje, sempre voltam a reclamar violentamente o seu espaço.

E assim sigo, em sístoles e diástoles, num respirar de
contínuo entre o eterno e o imediato.
Que me faltam músculos de revolução na alma.
F.I.S.

14.7.10

C# and .NET book

I have just finished reading the book “Pro C# 2008 and the .NET 3.5 Platform,” (by Andrew Troelsen, 1370 pages) showed in the picture besides. Having finished it is cause of great joy for me, given that this heavy book has accompanied me for the last 7 months!

This great amount of time is understandable for a book with 1370 pages. It is huge! Definitely, the biggest individual book I have ever read.

What most surprise myself is the fact that the biggest book I read is a book in Computer Science! More specifically, a book about a programming language (C#) and its development platform (.NET). It’s surprising because, although I have read many big books in my life, almost none of them was in Computing.

Some of the big books I read were technical, but none in my field of work (I am a Computer Engineer, by graduation). For quick examples, I can mention having read in the recent years books like “Diplomacy” (by Henry Kissinger, 912 pages), “Principles of Economics” (by Gregory Mankiw, 852 pages) and “História do Brasil” (“History of Brazil,” by Boris Fausto, 660 pages).

So, for me it is quite impressive having completed this reading, being that in Computing. And why this innovation? The quickest answer is that this is an attempt to improve my skills on my current job. For almost a year, I have been working as a Software Engineer, in which programming in C# for Windows environment is pretty much what I basically do. As I had not previous professional experience on these technologies, reading a book like this, I thought, would be a great way of improving my skills and productiveness.

If this experience was worthwhile? For me, surely was. I had a chance to be exposed to several different topics in Computer Science, looked through the lens of this particular programming language (C#), development environment (.NET and Visual Studio) and operating system (Windows). So was interesting not only for this particular scenario but as a revision of general topics in programming as well.

If I would repeat the experience, knowing from the beggining the real gain I would obtain at the end? Yes, again, since I learned pretty much what I was expecting to learn.

If I would recommend a complete reading like this to other folks? It depends. The book is amazingly complete and well-written, so having this as consulting material is something I highly recommend. But reading it thoroughly like I did, I would suggest just for those who are in a situation similar to mine (newcomers to the territory who want to acquire a very complete big picture) or for those who want to get acquainted with programming techniques not involved in their day-to-day work (which was my case as well, like someone who works in stand-alone single-threaded applications but have interest in learning more about multi-threaded applications, as well as database and/or web-based programming).

In any situation, it’s worthy pointing out that nothing can replace working experience. Even considering that the code examples in the book are extremely useful, just the act of creating new code really makes things more clear on the long-run.

13.6.10

Maracanã


Estive, no último dia 26 de maio, e pela primeira vez, no Estádio Jornalista Mário Filho, o tão famoso Maracanã. O jogo era um Fla-Flu, dos mais tradicionais, e válido pela quarta rodada do Campeonato Brasileiro de 2010.

O primeiro impacto ao chegar é a surpreendente grandeza e beleza do estádio. Para uma construção de 1950, surpreende a qualidade do que se vê hoje por lá. A pintura está nova, há cadeiras em todos os assentos, dois belos telões bastante funcionais, além dos que parecem ser ótimos camarotes e setores de imprensa.

Embora eu não tenha utilizado, outro item bastante positivo para o estádio é o fácil acesso via metrô.


Quanto às pessoas, que são, em última análise, as responsáveis pelo sucesso do espetáculo, duas surpresas. Uma boa e outra ruim.

A boa, que havia espaços da arquibancada nos quais rubro-negros e tricolores coexistiam pacificamente. Sentei-me num desses setores, e foi interessante ver jovens, crianças, mulheres e casais, de ambas as torcidas, sentados lado-a-lado.

A ruim ficou por conta dos vendedores ambulantes que, além de obstruírem a visão e incomodarem pelo barulho, pisavam constantemente nos assentos não ocupados, sujando-os bastante. Uma chuva rala que caía só tornava a coisa pior, porque a sujeira molhada dos sapatos desses ambulantes espalhava-se ainda mais. Essa sujeira, aliás, foi a única nota negativa da noite.

Ah, e quanto ao resultado do jogo? Um justo dois a zero para o Fluminense, para decepção deste flamenguista de última hora.

17.5.10

Churchill

Em alguns dos posts iniciais deste blog, escrevi sobre um personagem histórico que admiro muito: Winston Churchill. Eu lia, por aquela época, uma excelente biografia desse grande estadista inglês.

Mal podia imaginar, contudo, que, muitos meses depois, em janeiro de 2010, e por conta de uma viagem de trabalho a Londres, eu poderia entrar em contato com o cenário principal da vida de Churchill.


Destino central para os milhões de turistas por ano que visitam a charmosa capital inglesa, também eu estive na "Houses of Parliament", o Parlamento inglês, mostrado acima em foto minha. Esse foi, por excelência, o palco de Winston, que aí atuou por mais de seis décadas de sua vida.

E, para minha surpresa, lá estava, na praça que se situa em frente ao Parlamento e à Abadia de Westminster, num dos pontos de maior circulação de pessoas na Inglaterra, lá estava uma bela estátua de Winston Churchill, numa justa posição de destaque. Claro, não pude deixar de fotografar.


7.4.10

Oração

Há alguns meses atrás, assisti uma Missa na paróquia Nossa Senhora de Copacabana que me marcou num aspecto singelo e peculiar. O padre, já de certa idade e com um curioso sotaque de português de Portugal, fez distribuir um pequeno livreto voltado para o incentivo de boas e novas vocações sacerdotais.

O livreto incluia um texto do Santo Cura d'Ars (um dos meus prediletos, do qual já li uma biografia, que gostaria de poder comentar por aqui em algum momento futuro), e também uma fotografia da casa do Cura d'Ars, conservada como era no seu tempo.

Mas a parte que mais me marcou foi uma oração, incluída nesse livreto. Contou o padre que aquela oração havia sido escrita por uma senhora humilde, moradora de uma das localidades em que trabalhara quando jovem e recém-ordenado sacerdote. Era uma senhora de pouca instrução formal. Mas suas palavras, ao mesmo tempo simples e profundas, indicavam uma sofisticada alma de oração e vida interior.

Ali estava, de alguma forma, uma síntese original de muito que já ouvi e li, ao longo da minha formação católica. Que uma senhora semi-analfabeta pudesse tecer tais palavras tão originais e tão consoantes com o que se poderia chamar de “espírito católico”, é algo confortante e indicador do fundamento unitário na espiritualidade da Igreja.

Aqui vai o texto:

Oração pelo sacerdote que está servindo à nossa comunidade

Ó Jesus, sede o grande amor da vida do sacerdote que está servindo à nossa comunidade. Assisti-o em todas as suas necessidades espirituais e temporais. Infundi em sua alma a flor da obediência, da pureza, da humildade e do temor de Deus. Concedei-lhe os dons e graças do Divino Espírito Santo, de um modo especial o dom da fortaleza e o dom do conselho. Olhai para ele com os olhos da Vossa imensa bondade.
Fazei possível, pela graça, o que lhe é impossível, pela natureza. Livrai-o de todos os perigos, fortificai a sua fé, aumentai sua esperança e caridade. Fazei, ó Jesus, que o seu último suspiro seja de amor e arrependimento.

Amém!

23.2.10

Cities at night

On my way to create the last post published below (about the DMSP image of Earth at night), I came across something that really impressed me.


It was a video of cities at night taken by astronauts from the ISS (International Space Station). A little later, I found an article that explained in details what that video was about.


To make a long story short: astronauts used to take Earth pictures from space, but they couldn’t avoid blurring due to the ISS velocity relative to the Earth’s surface combined with the exposure time required to capture night lights.


A solution to this problem was finally obtained by the astronaut Dan Pettit, who managed to create the system showed below to compensate the Space Station movement in order to get sharp images.



The outcome of this system was an impressive set of images from Earth cities, with about 60 meters of estimated resolution. These pictures were taken at night, when is easier to catch a realistic view from the spatial distribution of the cities.


Finally, Dan Pettit himself assembled a video from these images, in which he guides us in a tour around the world to discover the beautiful configuration of cities from different parts of the planet – and the implicit cultural differences that lay under the historical process of these cities formation.




You can find here a high definition version for the movie above.

18.2.10

O mundo à noite e o consumo de energia


Talvez a imagem acima não lhe seja novidade, caro leitor. Trata-se, basicamente, da iluminação pública da Terra, vista durante a noite, a partir do espaço. Imagens semelhantes são produzidas já há alguns anos, e com relativa frequência, com base nos dados obtidos pelos satélites do DMSP (Defense Meteorological Satellite Program), órgão ligado à Força Aérea norte-americana.

Essa imagem, em particular, foi obtida do site da Nasa. Mais especificamente, da seção de fotos do dia (Picture of the Day Archive).

Como a Terra sempre tem metade de sua superfície iluminada pelo dia e metade escurecida pela noite, trata-se de uma montagem.

Não são poucas as interpretações possíveis a partir de imagens desse tipo. A mais evidente é a correlação entre áreas desenvolvidas e iluminação, uma vez que Estados Unidos, Europa e Japão são os pontos de maior espalhamento luminoso do planeta. Uma segunda interpretação análoga seria a correlação entre desenvolvimento e consumo energético.

Duas regiões surpreendem positivamente em termos de luminosidade: Índia e leste da China, uma vez que se assemelham a regiões de maior maturidade econômica.

Por outro lado, grandes porções da África, América Latina, Ásia e Oceania ainda apresentam-se parcamente iluminadas durante a noite. Isso indica um provável aumento da demanda por energia num futuro próximo, dado que tais regiões continuarão a se desenvolver economicamente, ainda que em ritmos mais ou menos intensos.

Para um mundo já carente de fontes energéticas e com previsão de esgotamento do petróleo nas próximas décadas, a imagem acima pode evocar uma ameaça – de colapso no abastecimento global de energia – ou uma oportunidade – para o desenvolvimento de novas tecnologias e novos negócios. Depende de como se queira ler a realidade.


5.2.10

Abelhas, castores e homens

Estou lendo, atualmente, o livro Lições Preliminares de Direito (Editora Saraiva, 1987, 381 páginas), do grande mestre jurista brasileiro Miguel Reale.

São várias as passagens enriquecedoras do texto, escritas sempre numa linguagem ao mesmo tempo clara e precisa – o que só confirma, para mim, a fama extremamente positiva desse autor.

Um trecho, contudo, pareceu-me propício para figurar como um post, dado sua proximidade com o último assunto aqui publicado. Tomei a liberdade de incluir algumas frases extras do excerto em questão, para dar maior contexto ao ponto que interessa.

“É preciso compreender o sentido da palavra ‘natural’ empregada por Aristóteles e seus continuadores. Não há dúvida que existe, na natureza humana, a raiz do fenômeno da convivência. É próprio da natureza humana viverem os homens uns ao lado dos outros, numa interdependência recíproca. Isto não quer dizer que o homem, impelido a viver em conjunto, nada acrescente à natureza mesma, pois ele a transforma, transformando-se a si mesmo, impelido por irrenunciável exigência de perfeição.

A sociedade em que vivemos é, em suma, também realidade cultural e não mero fato natural. A sociedade das abelhas e dos castores pode ser vista como um simples dado da natureza, porquanto esses animais vivem hoje, como viveram no passado e hão de viver no futuro. A convivência dos homens, ao contrário, é algo que se modifica através do tempo, sofrendo influências várias, alterando-se de lugar para lugar e de época para época. É a razão pela qual a Sociologia é entendida, pela grande maioria de seus cultores, como uma ciência cultural.

15.1.10

Sobre o Relativismo

Há algumas semanas atrás estive envolvido numa discussão peculiar com alguns colegas de trabalho. Dois deles defendiam que a barata é pelo menos tão evoluída quanto o homem. Justificavam dizendo que em caso de uma guerra nuclear elas sobreviveriam; e nós, não. Além disso, diziam, elas também estão espalhadas por todos os continentes. E, por fim, que, do ponto de vista da natureza, barata e homem estavam a um mesmo nível.

Apesar de eu não saber confirmar a veracidade de alguns dos argumentos apresentados, defendi, junto com outro colega, idéias opostas. Afirmei que o homem possui uma inteligência muito superior, e, por exemplo, uma notável capacidade de transmissão de idéias, além das noções de estética e arte. Desde há vários séculos, nossos antepassados continuariam a se comunicar conosco por meio de escritos e objetos deixados à posteridade.

Refletindo sobre o ocorrido, horas depois, cheguei a uma conclusão: as origens remotas dessa discussão poderiam muito bem estar numa questão muito mais geral, que há tempos me incomoda – o Relativismo.

Creio que foi no período de tempo que vai da divulgação das idéias Darwinistas, em meados do século XIX, até a superexposição das idéias do homem inteligente mais famoso do século XX, Albert Einstein – principalmente por meio de seu feito mais notável, conhecido e incompreendido: A Teoria da Relatividade – que o Relativismo ganhou ares de verdade universal.

Que fique muito claro: o Relativismo é uma coisa boa! A minha mente científica também louva os feitos daqueles que, como Darwin e Einstein, ampliaram as lentes sobre as quais vemos nossa realidade. O problema está no fato de que o relativismo não é uma lei universal, não se aplica a tudo.

Pior, há uma contradição intrínsica no uso exagerado do relativismo: ao invés de ampliar a nossa capacidade interpretativa da realidade, como pode parecer a princípio, ele muitas vezes a limita, porque não permite construir conceitos encadeados, dada a multiplicidade de idéias básicas que supostamente têm o mesmo valor. Em outras palavras, quando adotado indiscriminadamente, o relativismo não permite idéias sobre idéias, conceitos sobre conceitos, uma vez que impede a aceitação categórica de algumas realidades muito evidentes.

Tão evidentes, por exemplo, quanto o fato de o ser humano ser muito superior às baratas.