10.5.11

História da Política Exterior do Brasil

Terminei de ler, há alguns dias, o livro “História da Política Exterior do Brasil” (Editora da UnB, 2a edição, 2002, 525 páginas). Foi a quarta vez que o li. Eu sei, deve parecer estranho ter lido o mesmo livro quatro vezes, mas tenho cá minhas razões.

No geral, aprecio o livro, assim como aprecio muitíssimo o tema tratado por ele. Aliás, é sempre louvável uma obra de fôlego como essa, por pretender tratar de um vasto período histórico, mantendo a coesão geral entre os muitos fatos narrados, sem se aprofundar nem muito nem pouco em cada assunto específico.

Até onde sei, esse livro é o único de sua espécie.

Mas o fato de ser único, raro, desprovido de concorrentes à altura, também é problemático: não há como escapar dele para se ter uma visão completa da política externa tupiniquim desde a Independência. E, pior, há que se conviver com seus “defeitos de fabricação”.

O principal desses defeitos se encontra nos trechos escritos pelo professor Amado Luiz Cervo, da Universidade de Brasília, co-autor do livro junto com o professor Clodoaldo Bueno, da Universidade Estadual Paulista.

Claro que se trata de um grande acadêmico, digno de todo respeito e admiração. O professor Amado, contudo, tem uma tendência à valoração excessiva dos acontecimentos históricos narrados, com algum fundo ideológico. Tal característica chega a ser uma vantagem em certos pontos, mas beira o anti-científico em outros, como na descrição de um suposto “Estado Normal”, teoria muito estranha defendida por ele para explicar, em parte, o período FHC. Tal teoria pode ser sintetizada pelo seguinte trecho:

“A experiência de uma década revela que esse paradigma [o do Estado normal] envolve três parâmetros de conduta: como Estado subserviente, submete-se às coerções do centro hegemônico do capitalismo; como Estado destrutivo, dissolve e aliena o núcleo central robusto da economia nacional e transfere renda ao exterior; como Estado regressivo, reserva para a nação as funções de infância social.” (pag. 457)

E o texto segue por páginas a fio com essa teoria recheda de visão anti-neoliberal. Não que eu seja contrário à crítica (até faço a ressalva de que tal crítica é senso comum já há tempos), mas simplesmente não desejaria ler uma visão ideológica tão explícita num livro de história.

Concluo repetindo que julgo o livro, como um todo, excelente. Deveríamos ter outros tantos mais desse quilate. Seria desejável, entretanto, que possuísse um caráter mais contido em alguns trechos, atendo-se mais aos fatos do que a uma visão pré-estabelecida sobre os mesmos.