Desde a infância ouvi
dizer que certos povos, como os alemães por exemplo, são “frios”. Mais tarde, comecei
a entender que a nossa cultura brasileira, devido a uma série de fatores, é que
é “sentimental”. A diferença entre tais tendências opostas, sentimentalismo de
um lado, e uma postura mais direta do outro, provavelmente teceu pré-conceitos
não só dos brasileiros em relação a alguns povos estrangeiros como, muito
provavelmente, o oposto também. Hoje, depois de bastante leitura e observação,
acredito que há um mito tanto em nos enxergarmos como “calorosos” quanto em
vermos certos povos como “frios”.
Historicamente, o Brasil
foi formado em grande parte por estrangeiros movidos pela “ética do aventureiro”.
Muitos dos portugueses, por exemplo, viam na colônia nada mais do que um atalho
para uma riqueza fácil e rápida, que pudesse depois ser ostentada na terra
natal. Some-se a isso o fato de que o trabalho duro, por séculos, foi relegado
primeiro aos índios e depois aos africanos trazidos como escravos, e se pode
chegar ao entendimento de que retidão moral não foi o ponto alto na formação da
cultura brasileira.
Apesar da simplificação,
pode-se afirmar que a nossa formação histórica levou, em grande medida, à
gestação do que hoje chamamos de “jeitinho brasileiro”. E faz parte desse tal “jeitinho”
ser sentimental. Assim como faz parte do nosso trato social ocultar certas
verdades para não ofender o interlocutor.
Muito desse
sentimentalismo, entretanto, não tem profundidade. Trata-se apenas de
convenções sociais. Quantas vezes não encontramos alguém e dizemos “vamos
marcar algo!”, ou “passa lá em casa
qualquer hora!”, com o quê ambos interlocutores concordam, mas que ambos sabem
que não será posto em prática?
Já em outros países, com
diferentes desenvolvimentos históricos, tais mecanismos sociais não existem, ou
existem em menor grau. E a Noruega está incluída nessa categoria. Ainda que, no
geral, as pessoas tendem a ser mais diretas, ou honestas, no trato social, não
se pode dizer que sejam mais “frias”. Simplesmente não é visto como ofensivo o
expressar-se de forma mais direta, mesmo que se diga algo em forte contraste
com o que o interlocutor afirma.
A verdade, portanto, é
que tanto o “calor humano” no Brasil não é tão sincero como pode parecer a um
estrangeiro desavisado, quanto a aparente “frieza” de alguns povos, como os
noruegueses, não pode ser confundida com a ausência de sentimentos, por parte
de um brasileiro pouco informado.