20.9.08

Você se interessa por espionagem?

Se a sua resposta foi sim, então vai gostar muito do filme “A Companhia” (The Company, 2007), que mostra alguns dos mais emocionantes embates entre CIA e KGB desde a década de 1950 até a queda do muro de Berlim.

Com o formato de uma mini-série, contendo 3 episódios e 285 minutos de duração, “A Companhia” apresenta determinadas características que lembram um documentário. Em primeiro lugar, por cobrir um período da mais de 40 anos de história, com atores “envelhecendo” em cena. Em segundo lugar, por incluir eventos e pessoas reais, em alguns dos momentos mais tensos da Guerra Fria.

Os dois pontos altos são os que descrevem a Revolução Húngara, de 1956, e a invasão da Baía dos Porcos, de abril de 1961.


O primeiro episódio foi uma revolta popular contra a influência soviética na Hungria, inicialmente apoiada e depois abandonada pela CIA, dado os temores de início da terceira guerra mundial. O Exército Vermelho (soviético) massacrou os revoltosos depois que KGB e CIA confirmaram, tacitamente, que a Hungria estava sob a “zona de influência” russa.


Já o caso da invasão da Baía dos Porcos é bem mais conhecido, sendo a ocasião em que a CIA treinou e apoiou cerca de mil e duzentos exilados cubanos numa invasão frustrada da ilha de Castro.


O mais do filme é ficção, não menos recheada de espionagem e contra-espionagem, informação, desinformação e agentes duplos. Um prêmio para o expectador é a fantástica atuação de Michael Keaton, na pele de James Jesus Angleton, um lendário funcionário real da CIA, que desperta grande interesse por suas excentricidades.


Uma ressalva final: claro que nem tudo exposto no filme é compatível com o que de fato ocorreu, e claro que a questão moral sobre os atos de espionagem não foi discutida neste post e nem é aprofundada no filme, apesar de que o tom melancólico de algumas partes, sobretudo no terceiro episódio, mostra bem que algo cheira mal neste mundo de trapaças. Feita a ressalva, o filme, ainda assim, vale muito a pena.


Veja um trailer aqui.

5.9.08

Na corte do Rei D. João

Estou lendo atualmente o livro “Os Donos do Poder”, escrito por Raymundo Faoro. Trata-se de um livro de enorme amplitude histórica, que faz uma análise minuciosa das classes dirigentes portuguesas, primeiro, e brasileiras, depois, desde o século XIII até os anos 1930.
Talvez escreva um resumo sobre ele depois. Por ora, quero apenas comentar uma passagem curiosa. Lá pela página 290, Faoro discute a questão do desperdício na corte de D. João VI (o que chegou ao Brasil fugido de Portugal, em 1808). Para exemplificar esse desperdício, o autor elenca os itens da “ração diária” de uma das criadas do palácio real. Reproduzo aqui os tais itens, em unidades equivalentes às que usamos hoje:
  • 3 galinhas
  • 4,5 Kg de carne de vaca
  • 230 g de presunto
  • 2 chouriços
  • 2,7 Kg de carne de porco
  • 2,3 Kg de pão (!!)
  • 230 g de manteiga (que era muito escassa nessa época)
  • 2 garrafas de vinho
  • 450 g de vela
  • 450 g de açúcar
  • quantidade não especificada de café, frutas, massas e folhados, legumes, azeites e outros temperos.
Impressionante, não?? Se fosse nos dias de hoje já soaria absurda essa tal “ração diária”, agora imagine conseguir isso tudo em 1818 (ano desse relato), num país que produzia basicamente açúcar, algodão, fumo, couros e um pouco de café! O resto eram lavouras de subsistência ou itens importados. Bom, nada mais a dizer. Apenas que deve ter sido um ótimo emprego esse de “aia” [espécie de babá] lá pelos anos de 1810, na corte do Rei D. João.

4.9.08

Dica de documentário

Imagine um território de 45 Km de comprimento por 6,5 Km de largura. Agora imagine 1 milhão e 200 mil pessoas vivendo dentro dele. Imagine que essa população tenha um grande fervor religioso e esteja submetida a toda sorte de necessidades materiais. Imagine, por fim, que esse território esteja sob clima de guerra há décadas!

Difícil imaginar tudo isso, não? Mas é exatamente essa a realidade da Faixa de Gaza, região exprimida entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo, e muito bem retratada no excelente documentário “Gaza Strip” (por James Longley, 2002).


E tem uma qualidade extra, esse filme, a de ser narrado principalmente a partir da visão de crianças que, como quaisquer outras crianças, sabem reproduzir com total sinceridade as opiniões e sentimentos dos adultos que povoam seu mundo.


Por último, uma ressalva. O documentário, apesar de excelente, não pode ser visto como a verdade final sobre a questão “israelenses versus palestinos”, pois mostra apenas um dos lados da situação, que é o lado árabe-palestino. Isso não diminui nem um pouco, entretanto, a importância do filme. O expectador certamente sai de seus 74 minutos de duração com uma visão totalmente reconstruída do drama real que é a realidade no Oriente Médio.


Abaixo, um pedaço do documentário.